quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Gerês Extreme Marathon

  29/11/2015


   O Gerês é indescritível....é único, é imponente, é mágico, é natureza no seu esplendor....A Maratona do Gerês, é um paralelismo de tudo o que está escrito atrás....e para além de tudo isso, significa que podemos desfrutar do Gerês correndo, numa liberdade única e ímpar....
   Quando no inicio deste ano, estipulei como meta efectuar uma maratona, seria dificil por tudo o que enumerei atrás, que a escolha não recaísse sobre esta prova...Os relatos da mesma, de quem a fez no ano passado, seduziram-me logo....a imaginação de me sentir naquele paraíso, invadiu-me a mente, e se é verdade que para uma primeira maratona de estrada, a maratona da minha cidade teria de ser a eleita, significando dessa forma a estreia na distancia mítica ( sim, é um facto já mesmo depois de ter feito vários ultra trails),  tinha de abrir esta excepção para que a Gerês Extreme Marathon, fosse o meu baptismo nesta distancia.
    Gerei uma ansiedade durante a semana anterior à prova, como à muito não gerava...Sinal que realmente esta prova significava algo importante para mim,não só no aspecto pessoal, mas também no aspecto físico e mental, pois para além de não fazer uma distancia superior a 40 kms à quase 2 anos, ainda tinha o lado psicológico agravado com a lesão que me apoquentou praticamente durante quase todo o ano de 2014. O fim de semana chega, e com isso a viagem para a Vila do Gerês. Parto sábado ao fim da manhã, e tenho assim tempo para ir seguindo os preparativos para a prova do dia seguinte. Chegado ao local, a sensação que tenho é sempre a de que estou num sitio idêntico ao das estâncias que existem nos Alpes ou Pirenéus....Ver a Vila ladeada por duas montanhas,ajuda e de que maneira a ter essa sensação. Num formato mais pequenino(bastante mais!), mas em nada fica a dever à beleza e encanto dessas duas cordilheiras.  Ao longo da tarde, o movimento começa a aumentar, sinal que havia muita gente que tal como eu, iria pernoitar nos vários albergues, casas ou hoteis. A noite caí, e com isso desce a temperatura, sendo que o recolher era quase que obrigatório.
    Chega então o dia D....7.15 da manhã....Acordo com a sensação de ter tido uma noite razoavelmente bem dormida. O Gerês esse, acordou lindo como sempre, com o sol a raiar, mas com um frio de rachar...A partida da prova seria dada ás 9 da manhã, e dirijo-me para a mesma 15 minutos antes...o frio não dava tréguas, e todos os que ali estavam sentiam-no "no osso", mas os sorrisos, cumprimentos, abraços e fotos, amenizavam o tremer do corpo e a ansiedade da minha pessoa. Bate as 9, e depois de umas breves palavras do Carlos Sá, eis que é dada a partida. Olho para o céu, sabendo que muito da minha ambição passava pelo Divino e por quem de direito próprio se encontra por lá e que sei que me ama. Estava a partir de agora, entregue a mim próprio e ao Gerês....
    Começo então esta travessia, esta aventura...o cartão de visita, foi logo ao fim dos primeiros 250 mts de prova...a rampa da Boavista seguido da rampa da Carvalha,dá-nos logo 300 mts de percurso peculiar, com uma pendente média de 20 a 25 % de inclinação...Foi logo uma boa forma de aquecer o corpo, e preparar para o que vinha logo a seguir : a ascensão para uma Pedra que se diz ser Bela....Seriam 5 os kms que tinha de fazer para a conquistar...subo-a com a certeza que era "ela" a eleita, que era "ela" quem eu queria..."Ela" dá-me uma luta tremenda, mas como em tudo na vida, conquistar algo, dá o seu trabalho...Por cada metro que percorria, sabia que estava a ir no rumo certo para a alcançar, e "ela" sabendo disso, retribuía com toda a "sua" beleza, e seduzia-me com as suas paisagens e curvas, mesmo sabendo que eu estava a "sofrer" por tê-la aos meus pés...a estrada da conquista estava a ser dura, mas ao mesmo tempo encantadora...foram 43 minutos desde o tiro de partida até ao cimo, para finalmente dizer que a Pedra Bela estava conquistada.... Mas o tempo para a "namorar" foi demasiadamente curto, pois ela não me retribuiu com todo o sentimento que achei que nutria por mim, e tendo eu já dado tanto de mim para a conquistar, achei-me merecedor de algo mais que a Bela da Pedra não me podia dar....digo-lhe adeus e  pisco-lhe o olho, acenando-lhe com a certeza que "ela" não iria ficar só, nesta estrada da vida....
    Começo então a descer, tudo aquilo que tanto me custou a subir, e tento assim deixar a Pedra Bela para trás, num sinal claro que teria de ir à procura de novas conquistas que o Gerês me poderia dar....Descida feita, e eis que novo desafio surge no horizonte : Começar nova ascensão, e com isso ir ao encontro da subida da "Preguiça"....Também a tinha de conquistar, também a tinha de subir e com isso dar o melhor de mim...a "Preguiça", não sendo tanto como a Bela da Pedra, é também ela dura de roer e linda de morrer....momentos houve que me deixei "preguiçar" por "ela" e caminhei para dessa forma apreciar ainda mais toda a sua beleza..."ela" levar-me-ia até ao seu cimo que estava situado ao km 17...Com alguma dificuldade, lá a conquisto, sou retribuído com uma espera bem interessante de pessoas que ali estavam, mas também sou ligeiro no tempo que ali fico, pois não podia dar-me a tal inércia que a "Preguiça" me queria dar...
    O Gerês chamava-me e eu tinha de continuar a seguir a estrada que ele me estava a proporcionar....diz-me que tenho de ir para a Mata da Albergaria...Pensei para mim, se começo a desfalecer, a palavra "mata" vai-me fazer morrer....Puro engano...sabia que ia ao encontro do expoente máximo da beleza da Natureza....sabia que ia ao encontro de algo protegido, de algo que é de pertença de uma reserva única, de algo que é preservado como nada mais o é no nosso país...A Mata brinda-me com uma paisagem deslumbrante como que a querer dizer que estava perante uma "Musa" da Natureza...Não teria melhor cenário para me sentir livre e solto para correr a meu belo prazer....a Mata dava-me tudo isso e muito mais....dava-me riachos e fontes,dava-me uma imensidão de árvores, dava-me o Outono no seu esplendor, traduzido nas várias cores que todas aquelas folhas me permitiam visualizar...
Foram 7 kms de perfeita harmonia, que me fizeram apaixonar ainda mais por tudo aquilo que estava a desfrutar....O caminho em terra batida dava leveza ás sapatilhas e fazia-me correr de uma forma ligeira e certeira...Sabia para onde aquele trilho me levava, e embora soubesse que a Mata estava prestes a terminar, sabia que o encanto iria continuar....o estradão em terra está prestes a terminar,mas ainda em antes disso, já começo a ser acompanhado pela lagoa/albufeira da barragem de Vilarinho das Furnas....Essa aldeia que se encontra submersa, e que se diz ser possível ver, quando o nivel da água se encontra mais baixo....ainda não foi desta que vi a aldeia, mas o caminho da Geira romana, não me deixa desmotivar, e vou qual romano a fugir de um gaulês, correndo até alcançar novamente o alcatrão....e é precisamente nessa parte, que chego a um dos pontos que mais ansiava chegar...ver a totalidade da albufeira da Barragem de Vilarinho das Furnas com a própria barragem a servir como pano de fundo...Coisa normal, dizem vocês....Paisagem única, digo-vos eu....Ver naquela água, toda a Serra Amarela espelhada, é sinal de uma simbiose perfeita como que a dizer que ambas são ALMA uma da outra. Olho para tamanho "postal", e sinto-me naquela imensidão....sinto-me como que a dizer que a ÁGUA espelha a  fonte do desejo, que a ÁGUA é a fonte da vida, que a ÁGUA é a fonte da paixão. Custou-me deixar tal cenário, mas o Campo do Gerês estava mesmo ali ao virar de uma esquina...esquina essa, íngreme e difícil de transpor.Mas o caminho tinha que continuar a ser trilhado, e como tal entro em plena aldeia que me vai levar a esse Museu da Geira onde mais uma vez tinha uma imensidão de pessoas para me aclamar.
    Levo quase 30 kms nas pernas, e aproveito o abastecimento para "carburar" um pouco o corpo, para desta forma atacar os 12 kms que faltavam. O Gerês continua a sorrir para mim, e diz-me : "continua"!!! E eu, sorri para "ele" e continuei...Sabia para onde me queria levar...começo a fazer o ultimo terço da aventura, e subo uma vez mais uma estrada onde o verde da paisagem, era trocado pelo cinza dos penedos e das rochas...Talvez o cansaço do corpo e da alma me faziam ver as coisas desta forma...Não me deixo temer pelo "cenário tempestuoso" e agarro-me ás meias de compressão e usando um pleonasmo, "puxo-as para cima"! Os músculos começavam a pedir isso e eu não hesitei...o cenário cinzento leva-me a mais um local imponente deste nosso Gerês...a tal Fenda, aquela que chamam da Calcedónia, estava ali ao meu lado, e eu olhei para "ela" e acanhei-me em sinal de respeito por tamanho rochedo. O Gerês disse-me : "Tens uma fenda para ultrapassar que te vai levar ao caminho da vitória" Se "ele" o disse, assim o fiz e superando esse real obstaculo de imponência única, chego ao cruzamento que faz a separação do caminho para o miradouro da Boneca e do caminho para a Vila do Gerês...sigo a placa que diz o mesmo, e onde estava marcado os kms que distavam...eram 12 na placa, seriam 9 no meu GPS....Vou crente que o GPS teria a sua razão, mas tambem penso que a não ter, teria mais 3 kms de Gerês....Sigo caminho e começo a avistar ao longe a paisagem que por aquilo que me pareceu, fez muita gente suspirar...De facto, visualizar ao fundo e bem lá em baixo o Rio Caldo e as suas pontes, com o contraste da montanha á volta, significava que a glória estava á distancia de fazer a travessia de uma das duas pontes....
Não ia ser fácil, a descida ia ser dura, e as pernas já acusavam o cansaço. Tinha noção que estava quase lá, que o objectivo do ano estava quase conseguido, embora faltasse ainda o quase....Mas mais uma vez, o Gerês não me deixou desanimar, e continuou a dar de si e a proporcionar-me imagens únicas e fantásticas....a cerca de 3 kms para os 42, vejo em baixo a Vila, e começo a ouvir o speaker da prova...é nesse momento que sinto um arrepiar no meu corpo que não era sinal de estar desidratado...É um arrepiar difícil de explicar que só eu o sei significar. Começo a calcar os caminhos que foram feitos logo no inicio da prova e começo a descer a rampa da Carvalha e da Boavista...
As sensações despertam e saem alma fora, e mais as sinto quando sinto o apoio familiar ali á minha espera...a chegada estava a 200 mts de distancia, e termino esta aventura de uma forma estranha...ao contra´rio do arrepiar, este finalizar não o sei explicar...Tal como fiz no inicio, voltei a olhar para o céu em sinal de agradecimento. Sabia que não podia falhar, por quem lá está, e por todo(a)s aquele(a)s que me apoiaram nesta magnifica epopeia. Desde já, o meu sincero obrigado por tudo o que fizeram e disseram por mim.
    Termino da mesma forma que comecei...o Gerês é indescritível...tudo isto é paixão.....e toda esta aventura já tinha começado em Abril, na altura do Trail do Vez....Mesmo em antes de deixar o Gerês rumo á minha cidade, sento-me numa esplanada, e deparo-me com o miradouro da Pedra bela no cimo da montanha que estava á minha frente...sinto-me nostálgico, e fico a pensar para mim...quem sabe um dia, conquistar-te de vez....
    Obrigado Gerês, e sei que contigo, terei sempre o prazer, sempre um de cada vez.....

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