quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Gerês Extreme Marathon

  29/11/2015


   O Gerês é indescritível....é único, é imponente, é mágico, é natureza no seu esplendor....A Maratona do Gerês, é um paralelismo de tudo o que está escrito atrás....e para além de tudo isso, significa que podemos desfrutar do Gerês correndo, numa liberdade única e ímpar....
   Quando no inicio deste ano, estipulei como meta efectuar uma maratona, seria dificil por tudo o que enumerei atrás, que a escolha não recaísse sobre esta prova...Os relatos da mesma, de quem a fez no ano passado, seduziram-me logo....a imaginação de me sentir naquele paraíso, invadiu-me a mente, e se é verdade que para uma primeira maratona de estrada, a maratona da minha cidade teria de ser a eleita, significando dessa forma a estreia na distancia mítica ( sim, é um facto já mesmo depois de ter feito vários ultra trails),  tinha de abrir esta excepção para que a Gerês Extreme Marathon, fosse o meu baptismo nesta distancia.
    Gerei uma ansiedade durante a semana anterior à prova, como à muito não gerava...Sinal que realmente esta prova significava algo importante para mim,não só no aspecto pessoal, mas também no aspecto físico e mental, pois para além de não fazer uma distancia superior a 40 kms à quase 2 anos, ainda tinha o lado psicológico agravado com a lesão que me apoquentou praticamente durante quase todo o ano de 2014. O fim de semana chega, e com isso a viagem para a Vila do Gerês. Parto sábado ao fim da manhã, e tenho assim tempo para ir seguindo os preparativos para a prova do dia seguinte. Chegado ao local, a sensação que tenho é sempre a de que estou num sitio idêntico ao das estâncias que existem nos Alpes ou Pirenéus....Ver a Vila ladeada por duas montanhas,ajuda e de que maneira a ter essa sensação. Num formato mais pequenino(bastante mais!), mas em nada fica a dever à beleza e encanto dessas duas cordilheiras.  Ao longo da tarde, o movimento começa a aumentar, sinal que havia muita gente que tal como eu, iria pernoitar nos vários albergues, casas ou hoteis. A noite caí, e com isso desce a temperatura, sendo que o recolher era quase que obrigatório.
    Chega então o dia D....7.15 da manhã....Acordo com a sensação de ter tido uma noite razoavelmente bem dormida. O Gerês esse, acordou lindo como sempre, com o sol a raiar, mas com um frio de rachar...A partida da prova seria dada ás 9 da manhã, e dirijo-me para a mesma 15 minutos antes...o frio não dava tréguas, e todos os que ali estavam sentiam-no "no osso", mas os sorrisos, cumprimentos, abraços e fotos, amenizavam o tremer do corpo e a ansiedade da minha pessoa. Bate as 9, e depois de umas breves palavras do Carlos Sá, eis que é dada a partida. Olho para o céu, sabendo que muito da minha ambição passava pelo Divino e por quem de direito próprio se encontra por lá e que sei que me ama. Estava a partir de agora, entregue a mim próprio e ao Gerês....
    Começo então esta travessia, esta aventura...o cartão de visita, foi logo ao fim dos primeiros 250 mts de prova...a rampa da Boavista seguido da rampa da Carvalha,dá-nos logo 300 mts de percurso peculiar, com uma pendente média de 20 a 25 % de inclinação...Foi logo uma boa forma de aquecer o corpo, e preparar para o que vinha logo a seguir : a ascensão para uma Pedra que se diz ser Bela....Seriam 5 os kms que tinha de fazer para a conquistar...subo-a com a certeza que era "ela" a eleita, que era "ela" quem eu queria..."Ela" dá-me uma luta tremenda, mas como em tudo na vida, conquistar algo, dá o seu trabalho...Por cada metro que percorria, sabia que estava a ir no rumo certo para a alcançar, e "ela" sabendo disso, retribuía com toda a "sua" beleza, e seduzia-me com as suas paisagens e curvas, mesmo sabendo que eu estava a "sofrer" por tê-la aos meus pés...a estrada da conquista estava a ser dura, mas ao mesmo tempo encantadora...foram 43 minutos desde o tiro de partida até ao cimo, para finalmente dizer que a Pedra Bela estava conquistada.... Mas o tempo para a "namorar" foi demasiadamente curto, pois ela não me retribuiu com todo o sentimento que achei que nutria por mim, e tendo eu já dado tanto de mim para a conquistar, achei-me merecedor de algo mais que a Bela da Pedra não me podia dar....digo-lhe adeus e  pisco-lhe o olho, acenando-lhe com a certeza que "ela" não iria ficar só, nesta estrada da vida....
    Começo então a descer, tudo aquilo que tanto me custou a subir, e tento assim deixar a Pedra Bela para trás, num sinal claro que teria de ir à procura de novas conquistas que o Gerês me poderia dar....Descida feita, e eis que novo desafio surge no horizonte : Começar nova ascensão, e com isso ir ao encontro da subida da "Preguiça"....Também a tinha de conquistar, também a tinha de subir e com isso dar o melhor de mim...a "Preguiça", não sendo tanto como a Bela da Pedra, é também ela dura de roer e linda de morrer....momentos houve que me deixei "preguiçar" por "ela" e caminhei para dessa forma apreciar ainda mais toda a sua beleza..."ela" levar-me-ia até ao seu cimo que estava situado ao km 17...Com alguma dificuldade, lá a conquisto, sou retribuído com uma espera bem interessante de pessoas que ali estavam, mas também sou ligeiro no tempo que ali fico, pois não podia dar-me a tal inércia que a "Preguiça" me queria dar...
    O Gerês chamava-me e eu tinha de continuar a seguir a estrada que ele me estava a proporcionar....diz-me que tenho de ir para a Mata da Albergaria...Pensei para mim, se começo a desfalecer, a palavra "mata" vai-me fazer morrer....Puro engano...sabia que ia ao encontro do expoente máximo da beleza da Natureza....sabia que ia ao encontro de algo protegido, de algo que é de pertença de uma reserva única, de algo que é preservado como nada mais o é no nosso país...A Mata brinda-me com uma paisagem deslumbrante como que a querer dizer que estava perante uma "Musa" da Natureza...Não teria melhor cenário para me sentir livre e solto para correr a meu belo prazer....a Mata dava-me tudo isso e muito mais....dava-me riachos e fontes,dava-me uma imensidão de árvores, dava-me o Outono no seu esplendor, traduzido nas várias cores que todas aquelas folhas me permitiam visualizar...
Foram 7 kms de perfeita harmonia, que me fizeram apaixonar ainda mais por tudo aquilo que estava a desfrutar....O caminho em terra batida dava leveza ás sapatilhas e fazia-me correr de uma forma ligeira e certeira...Sabia para onde aquele trilho me levava, e embora soubesse que a Mata estava prestes a terminar, sabia que o encanto iria continuar....o estradão em terra está prestes a terminar,mas ainda em antes disso, já começo a ser acompanhado pela lagoa/albufeira da barragem de Vilarinho das Furnas....Essa aldeia que se encontra submersa, e que se diz ser possível ver, quando o nivel da água se encontra mais baixo....ainda não foi desta que vi a aldeia, mas o caminho da Geira romana, não me deixa desmotivar, e vou qual romano a fugir de um gaulês, correndo até alcançar novamente o alcatrão....e é precisamente nessa parte, que chego a um dos pontos que mais ansiava chegar...ver a totalidade da albufeira da Barragem de Vilarinho das Furnas com a própria barragem a servir como pano de fundo...Coisa normal, dizem vocês....Paisagem única, digo-vos eu....Ver naquela água, toda a Serra Amarela espelhada, é sinal de uma simbiose perfeita como que a dizer que ambas são ALMA uma da outra. Olho para tamanho "postal", e sinto-me naquela imensidão....sinto-me como que a dizer que a ÁGUA espelha a  fonte do desejo, que a ÁGUA é a fonte da vida, que a ÁGUA é a fonte da paixão. Custou-me deixar tal cenário, mas o Campo do Gerês estava mesmo ali ao virar de uma esquina...esquina essa, íngreme e difícil de transpor.Mas o caminho tinha que continuar a ser trilhado, e como tal entro em plena aldeia que me vai levar a esse Museu da Geira onde mais uma vez tinha uma imensidão de pessoas para me aclamar.
    Levo quase 30 kms nas pernas, e aproveito o abastecimento para "carburar" um pouco o corpo, para desta forma atacar os 12 kms que faltavam. O Gerês continua a sorrir para mim, e diz-me : "continua"!!! E eu, sorri para "ele" e continuei...Sabia para onde me queria levar...começo a fazer o ultimo terço da aventura, e subo uma vez mais uma estrada onde o verde da paisagem, era trocado pelo cinza dos penedos e das rochas...Talvez o cansaço do corpo e da alma me faziam ver as coisas desta forma...Não me deixo temer pelo "cenário tempestuoso" e agarro-me ás meias de compressão e usando um pleonasmo, "puxo-as para cima"! Os músculos começavam a pedir isso e eu não hesitei...o cenário cinzento leva-me a mais um local imponente deste nosso Gerês...a tal Fenda, aquela que chamam da Calcedónia, estava ali ao meu lado, e eu olhei para "ela" e acanhei-me em sinal de respeito por tamanho rochedo. O Gerês disse-me : "Tens uma fenda para ultrapassar que te vai levar ao caminho da vitória" Se "ele" o disse, assim o fiz e superando esse real obstaculo de imponência única, chego ao cruzamento que faz a separação do caminho para o miradouro da Boneca e do caminho para a Vila do Gerês...sigo a placa que diz o mesmo, e onde estava marcado os kms que distavam...eram 12 na placa, seriam 9 no meu GPS....Vou crente que o GPS teria a sua razão, mas tambem penso que a não ter, teria mais 3 kms de Gerês....Sigo caminho e começo a avistar ao longe a paisagem que por aquilo que me pareceu, fez muita gente suspirar...De facto, visualizar ao fundo e bem lá em baixo o Rio Caldo e as suas pontes, com o contraste da montanha á volta, significava que a glória estava á distancia de fazer a travessia de uma das duas pontes....
Não ia ser fácil, a descida ia ser dura, e as pernas já acusavam o cansaço. Tinha noção que estava quase lá, que o objectivo do ano estava quase conseguido, embora faltasse ainda o quase....Mas mais uma vez, o Gerês não me deixou desanimar, e continuou a dar de si e a proporcionar-me imagens únicas e fantásticas....a cerca de 3 kms para os 42, vejo em baixo a Vila, e começo a ouvir o speaker da prova...é nesse momento que sinto um arrepiar no meu corpo que não era sinal de estar desidratado...É um arrepiar difícil de explicar que só eu o sei significar. Começo a calcar os caminhos que foram feitos logo no inicio da prova e começo a descer a rampa da Carvalha e da Boavista...
As sensações despertam e saem alma fora, e mais as sinto quando sinto o apoio familiar ali á minha espera...a chegada estava a 200 mts de distancia, e termino esta aventura de uma forma estranha...ao contra´rio do arrepiar, este finalizar não o sei explicar...Tal como fiz no inicio, voltei a olhar para o céu em sinal de agradecimento. Sabia que não podia falhar, por quem lá está, e por todo(a)s aquele(a)s que me apoiaram nesta magnifica epopeia. Desde já, o meu sincero obrigado por tudo o que fizeram e disseram por mim.
    Termino da mesma forma que comecei...o Gerês é indescritível...tudo isto é paixão.....e toda esta aventura já tinha começado em Abril, na altura do Trail do Vez....Mesmo em antes de deixar o Gerês rumo á minha cidade, sento-me numa esplanada, e deparo-me com o miradouro da Pedra bela no cimo da montanha que estava á minha frente...sinto-me nostálgico, e fico a pensar para mim...quem sabe um dia, conquistar-te de vez....
    Obrigado Gerês, e sei que contigo, terei sempre o prazer, sempre um de cada vez.....

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Da Estrela para o Gerês,com passagem pelo Vez

27/04/2015


  24/04/2015....Era sexta feira, e o fim de semana estava á porta.Estava já eu concentrado e focado para fazer uma prova interessante e divertida no Trail Solidário do Vez, e toca o telemovel a meio da manhã....Do outro lado da linha, nada mais nada menos que o amigo Armando Teixeira...." Diogo?! Tenho uma proposta a fazer-te!!! Quero que venhas comigo colaborar no Estrela Grande Trail, e gostaria que amanhã viesses á Serra da Estrela para conheceres o percurso da prova dos 25 kms!!" faz-se um silêncio na minha pessoa, era uma proposta tentadora, e quem me conhece sabe que é dificil dizer que não....Digo-lhe naturalmente que sim, mas coloco um entrave: " Armando, domingo tenho o Trail do Vez...não me queria desgastar muito para fazer a prova!!" Não tardou a resposta..." Não te preocupes....são "apenas" 3 horas e aproveitas e fazes um treininho para a prova..." Leram bem o que eu escrevi, não leram?! Acho que não preciso de dizer muito mais....Deixei-me então levar pela emoção, e sábado lá estava ás 6 da manhã pronto para arrancar para a Serra da Estrela....Aos dois, juntou-se o Miguel Catarino, o Miguel Ferraz, e o inevitável Pedro Portugal que com o seu espírito, histórias, e boa disposição, nos proporcionou quer durante a viagem de ida e volta, quer durante o treino, momentos únicos e divertidos!!! Não vou comentar muito sobre o treino em si, pois quero que mantenham uma expectativa elevada sobre a prova, que como já devem de saber, se vai realizar no fim de semana de 22 a 24 de Maio. Apenas vos posso garantir que vai valer muito a pena,a Estrela é uma serra arrebatadora, com um potencial tremendo, e o Armando e o Catarino conhecem-na melhor do que ninguém.



Foi dito isso mesmo por um habitante local, que ficou estupfato com a descrição da prova, e com os locais por onde esta vai passar. Só para abrir-vos o apetite, Manteigas será o ponto de partida e chegada, e teremos passagens por locais como Penhas Douradas, Vale do Rossim, Fenda da Mestra, Vale Glaciar, entre outros.... Não deixem de visitar o site oficial ( www.estrelagrandetrail.pt), fazerem a inscrição em uma das provas,e retirarem toda a informação das mesmas! Em relação ao treino, posso dizer que deu uma distancia de 27 kms e cerca de 1200 D+.....Das supostas 3 horas de treino, acrescentou-se mais uma e foram 4....Coisa pouca para quem no dia seguinte ia fazer uma prova que, adivinhem lá, ia ter 28 kms e 1250 D+!!! Realmente, não deixa de ser curioso este pormenor....Como também não deixa de ser curioso de no sábado ter feito o treino com o Armando Teixeira, e no dia seguinte ter estado na prova organizada pelo Carlos Sá....Duas referências, dois ídolos, e duas inspirações para todos nós!! Pelo menos, são-no para mim!!! :) 
  Perante isto, só me restou no dia seguinte, apresentar-me ás 7 da manhã (vá lá,ganhei uma hora em relação ao dia anterior....) em casa da Daniela e do Paulo Machado, para irmos em direção aos Arcos de Valdevez, em pleno Alto Minho. Estive, como devem de calcular, a pensar no que ia fazer e onde me ía meter, inclusíve o Paulo e a Daniela ainda tiveram a esperança de que eu não ia aparecer para dessa forma também eles não irem ( estava frio, e o tempo escuro e ameaçador), mas fiz-lhes a desfeita e apareci para contentamento deles (digam lá se não foi verdade!! :)), pois no fundo o que nós queriamos era mesmo ir correr e fazer a prova!!! Afinal, não é disto que gostámos?! 
  Chegados aos Arcos, deparamo-nos com alguma azáfama, especialmente na zona do levantamento dos dorsais, que pareceu-me ter pouca gente na logística, para aceder aos muitos atletas que estavam a proceder ao levantamento do mesmo.Neste caso, um agradecimento especial ao amigo Diogo Almeida, pela ajuda prestada. Com os dorsais levantados, e com o tempo a escassear, lá fomos á pressa ao carro equipar o que faltava, para nos dirigirmos ao local da partida. Supostamente estava marcada para as 9 horas, mas a organização e muito bem, adiou em 15 minutos o começo da prova naturalmente devido ao atraso provocado pelo levantamento dos dorsais. Nada de muito preocupante, pois a malta não se importa nada com estas coisas e estávamos todos animados e descontraídos. O tempo também estava a aguentar-se e o sol volta e meia lá aparecia e ajudava ao bom espírito reinante! Deu para encontrar em plena ponte sobre o Rio Vez (o local da partida), alguns amigos, onde destaco o Paulo Tavares que já não via há algum tempo...Sempre bom reencontrar-te, caro amigo!!! Estava muita gente, devido ao facto das 3 provas (1ª etapa do Gerês Adventure, prova dos 28 kms e prova dos 16 kms) partirem em simultâneo. Estava colocado mais ou menos a meio do pelotão, totalmente descontraído e com uma perspectiva de prova diferente daquela que tinha em mente. O facto de na véspera ter feito o que fiz, levava-me a pensar de outra forma, e a ideia seria o de ir muito tranquilo e sem grandes pressas... :) Partida dada, e lá fui eu ,cheio de dúvidas e sem saber até onde poderia ir aquela aventura...Dizia que fazer a prova dos 16 kms, era uma forte possibilidade, pois imaginava que ao fazer a prova dos 28 kms, ía sofrer a bem sofrer....
Parto descontraído, juntamente com os Paulos ( Tavares e Machado) e lá fomos no meio daquela multidão!! Reencontro o Diogo Almeida e a Natália Amoedo (estão a fazer os 8 dias do Adventure) e trocamos umas palavras durante algum tempo. Entretanto com isto, o Tavares que tinha dito que fazia a prova comigo, foi-se (está-te no sangue, amigo!!! Não consegues ir abaixo dos 12 kms/hora!!! :) e sigo com o Paulo Machado por perto. O inicio da prova é lento, quer pela muita gente que ainda estava junta, quer pelo perfil da mesma, pois começou-se logo a subir. Ainda em plena subida, encontramos esse Senhor do trail nacional, de nome José Capela, e o Manuel Quelhas. Estava feito um belo quarteto, que iria seguir junto até praticamente o primeiro abastecimento, que estava colocado ao kms 6. Pelo meio,senti-me um mero espectador ou neste caso escutador, das histórias que eles os 3 falavam do ainda e sempre presente MIUT....Foi um bom tonico para o que faltava subir, e um bom motivo para no proximo ano juntar-me à festa, e deixar de ser um ouvinte e passar a ser também eu, um contador de histórias dessa magnifica prova.
  Chegados ao abastecimento, fez-se a primeira divisão de provas, sendo que neste caso, a prova dos 16 kms deixava os trilhos das outras duas. Ponderei mesmo seguir a indicação dessa prova, mas o facto do abastecimento estar no lado oposto, e os amigos seguirem esse rumo, fez-me continuar nos trilhos da prova dos 28...Fomos brindados com um bom abastecimento e com a presença do Rancho Folclórico de S. Pedro do Vale. Saído do abastecimento, a subida continuava, mas acho que foi a partir dali que me deu o click e que achei que a prova ia começar a sério. O trafego de pessoas diminui bastante, e começamos a ter mais espaço para correr. Entretanto o perfil da prova altera-se e começamos a entrar numa zona de descida e mais rolante. Começo a imprimir um ritmo confortável, sinto-me bem e relativamente solto. A fantástica companhia dos 3 amigos mantém-se e ajuda na motivação. O percurso dava-nos de tudo um pouco: água, lama, pedra solta e muito escorregadia, como que a querer dizer que todo o cuidado era pouco. Foi assim até ao abastecimento seguinte, que estava situado ao km 13.5 e ficava inserido no Parque de campismo da Travanca. Mesmo a chegar-se ao Parque, mais um grande momento nesta aventura: apercebendo-se da presença do José Capela, um operador de câmara segue-nos por uns instantes, e pede em plena corrida, uma opinião sobre o percurso!!! Momento espectacular e fantástico! Chegados ao abastecimento, nova divisão das provas, sendo que agora íamos ficar apenas com os colegas e atletas da prova dos 28 kms. Saio do abastecimento com a companhia do Paulo ( o Capela já tinha ido e o Manel Quelhas tinha ficado para trás a contas com um desconforto na sapatilha) e seguimos caminho, rumo á subida que nos iria levar ao ponto mais alto da prova. Continuo a sentir-me admiravelmente bem e continuo a ter o incentivo do Paulo que volta e meia lá me perguntava como estava e dava animo para seguir. Fazemos juntos a subida, e podemos desfrutar da magnifica vista que tinhamos sobre as serras que compõem o Gerês....
belo momento, sem duvida....a subida é longa (mais ou menos 2 kms) e vemos um pouco mais á frente o José Capela, na companhia de outro grande nome do Trail: Telmo Veloso!!! Vamos aos poucos aproximando-nos deles, e no final da subida, começamos a rolar num planalto esverdeado, que nos iria levar a iniciar uma descida bem técnica, mas ao mesmo tempo espectacular de se fazer. É neste momento que o Paulo toma a dianteira, e começamos a aumentar o ritmo ao ponto de colar-mo-nos aos outros dois colegas!! Estava realmente super motivado com todas estas sensações e embora já começasse a sentir o cansaço, ter o privilégio de estar a correr com a companhia destes 3 atletas, era motivo mais que suficiente para continuar a ter forças!!! O percurso entrava na sua fase descendente e faltaria cerca de 10 kms para a chegada. Volta e meia lá dizia que a qualquer momento estourava, mas queria muito continuar a disfrutar de todos estes momentos! mesmo quando ficava um pouco para trás, lá ouvia o Paulo a dizer: "Diogo, vamos!!!!" e eu lá ía, como podia, claro!! :) Entretanto o Telmo "chateou-se" com a malta e resolveu ir embora, mas lá conseguimos ter a companhia de mais alguns companheiros que entretanto alcançamos com o decorrer da prova. O terceiro e ultimo abastecimento, estava para breve, mas mesmo em antes, temos mais uma "parede" para escalar que deve de ter sido onde gastei as minhas ultimas energias....Não era longa, mas era bem ingreme...aproveito e como uma barra energética e peço aos colegas para me emprestarem uns bastões...Lá recordámos o "elevador" do Paleózoico com o Capela a dizer-me para pegar em dois paus para ajudar a escalar a "parede".Mantenho-me com eles, iniciamos mais uma descida técnica e rápida que nos leva até ao ultimo abastecimento. Paragem muito breve, e já estava bem cansado ao ponto de não reparar que o trajecto que nos estava a levar de volta á chegada, tinha sido parte do mesmo que fizemos no inicio da prova.

  Faltariam cerca de 5 kms, e eis que é aqui que o "jovem" Capela impõe a sua lei e como que se de um inicio de prova se tratasse, impõe um ritmo tal, que faz uma descida final absolutamente espectacular, onde só mesmo o Paulo Machado o conseguiu acompanhar. Obrigado Capela, por teres destroçado o grupo, que tão bem ia junto... :) Mesmo assim,consigo ir a um ritmo bastante interessante, ao ponto de ultrapassar mais dois colegas. A cerca de 1.5 km do fim, o inevitável aconteceu: sentia que ia no limiar das cãibras há algum tempo, mas a fazer uma zona onde a amplitude do movimento teve de ser alterada, foi o suficiente para soltar um aí e sentir um dos musculos da coxa esquerda a ceder...páro um pouco ,mas não queria estragar uma prova que até ali estava a ser brilhante de se fazer...tento recomeçar, mas a dor é grande e penso que vou a mancar até ao fim....a sorte foi que 500 mts depois, vejo a "dádiva" que me foi dada nesta prova, que me fez incentivar e retomar o ritmo até final da prova!! 
  Foi um momento muito bom o de cortar a meta, e sentir que valeu todo o esforço que fiz neste fim de semana verdadeiramente fantástico!! Acho que o relato que fiz do mesmo, fala por si, e faz vocês compreenderem as emoções fortes que senti e vivi. 
 Naturalmente, não vou deixar passar uma palavra de apreço ao Paulo por ser o amigo que é, um atleta fantástico, um incentivador único e um grande companheiro de treinos, e a esse grande Senhor do nosso Trail que é o José Capela : coloco-o no mesmo patamar do Armando e do Sá, como referência, idolo, e inspiração para todos nós!!! Um prazer imenso ter feito quase toda a prova com a sua companhia!!!
  Em jeito de conclusão aqui fica os meus registos:


Trail Solidário do Vez/ 28 kms/1250 D+/250 participantes

Tempo - 3h 05m 55s

Classificação - 35º Lugar

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Meia Maratona Da Posta ao Bife

11/04/2015

 Num fim de semana recheado de várias provas, quer de estrada quer de montanha,(onde destaco naturalmente o Madeira Island Ultra Trail), desloquei-me até essa bela localidade de nome Arouca, para efectuar uma prova que contemplava um pouco das duas coisas : Uma meia maratona de estrada, mas em terreno montanhoso, com partida em Arouca, e chegada a Alvarenga. E o nome da prova era sem dúvida apelativo : Da posta ao bife, ou seja, da posta arouquesa ao bife de Alvarenga!!! Muito bom!!!
  E tudo isto surgiu, num fim de semana onde não perspectivava efectuar qualquer prova....Mas em conversa no dia anterior, lá fui convencido pela querida Alice, e aceitei o desafio proposto!!
  Foi sem duvida um desafio, pois foi a primeira vez que fiz uma prova do genero e como era uma prova com um formato diferente das habituais provas de estrada( que muito raramente faço), não hesitei em ir experimentar. E em boa hora o fiz, pois gostei da experiência.
  Chegado a Arouca, deparei-me com um ambiente tranquilo junto ao local da partida...Estariam cerca de 80 atletas para fazer a prova e 20 para efectuar a caminhada. Não se podia dizer que era um grande numero de atletas, mas atendendo ao facto de ter sido um fim de semana com inúmeras provas, o balanço não podia ser assim tão mau.
Com partida dada por volta das 10 horas, lá deixamos a "posta", e fomos em direcção ao "bife", e após uma passagem pelo sempre bonito centro de Arouca, entramos na estrada que nos iria levar montanha fora, em direcção a Alvarenga. Foi um inicio rápido, e a partir do momento em que passamos essa Obra Prima que é o Mosteiro de Arouca, o terreno começou a empinar e só teve fim no momento em que passamos o km 9.5!!!! Sim, é mesmo um facto, foi sempre a subir, estrada fora, num desnivel não muito acentuado, mas que não deixou de fazer mossa, pois a "moideira" nas pernas fez-se sentir de certo que em todos, e eu não fui exepção....A paisagem era bonita, mas confesso que me custa um pouco olhar em frente e ver sempre alcatrão....e o dia estava quente....Algumas foram as vezes que visualizava á frente, as ondulações no piso feitas pelo calor.... A meio desta longa subida, tinhamos um abastecimento liquido, que foi uma preciosa ajuda, pois além de hidratar, deu para descansar e relaxar um pouco...práticas de um "trailista" que não se vê num "estradista"!! :) Mas foi coisa pouca, pois não podia ficar ali a ver " a banda passar"!!!

 A partir do km 9.5, a situação inverteu-se e começamos então a descer....Foram cerca de 7 kms, num desnivel em tudo idêntico ao que tinhamos feito a subir, onde naturalmente o ritmo imposto foi forte, a levar-me a fazer uma média de 4 min ao km....Mas a verdade é que não conseguia apanhar ninguém que seguia á minha frente, sinal claro que todos estavam a rolar bem....a meio da descida,novo abastecimento, neste caso para além dos liquidos, também tinhamos sólidos( que bem que soube um pedaço de bolo regional!!), e pensei para mim que a prova não iria terminar a descer...Resolvi não aumentar o ritmo, e manter o que levava que já era bom e dava para gerir bem o esforço e guardar alguma energia para o final. A certa altura da descida, começo a ver um rio ao fundo e penso logo para mim que estaria para breve o final da mesma. Era uma zona bonita, e onde deu para apreciar além da beleza natural, os novos passadiços que estão a ser construidos na margem do Rio Paiva! Curioso por fazer uma caminhada por lá!!!
Era então o momento do final da descida e como eu perspectivara, iria começar a subir...levava 17 kms e faltavam então 4...disse para mim que iria dar tudo naquela fase da prova e tentar fazer alguma diferença para os demais, pois a inclinação do terreno favorecia-me e tinha guardado energias para tal. Não parei nesse abastecimento e imprimi desde o inicio da subida um ritmo forte.... Lá fui, sempre sem quebrar e comecei a colher os "frutos" disso, passando naturalmente por vários atletas ao longo da subida....Fazia-se também aqui a diferença de ser um "trailista" em relação aos "estradistas"!!! :) Contabilizei 5 ou 6 passagens, e a cerca de 1 km da chegada, vejo ao longe a amiga Alice que seguia em primeiro lugar no escalão feminino!!! Fui-me aproximando, chamei por ela para lhe dar incentivo para não abrandar, mas ela não me fez a vontade e esperou por mim, para dessa forma terminarmos a prova juntos, e com isso poder ter o privilégio de a ver cortar a meta em primeiro lugar!!! Acho que nem combinado conseguiamos fazer isto!! :)
Muitos parabéns pelo resultado e por aquilo que és!! Atleta fantástica, e sempre pronta a ajudar e a incentivar!!! És um exemplo para todos!!!
  Em nota de conclusão, foi uma experiência bem positiva e engraçada, foi um treino a competir, e deu para sentir um pouco de tudo...boas sensações,alguns momentos de maior esforço e acima de tudo chegar ao fim e ficar com vontade de repetir... E assim do nada, foi uma prova que acabou por dar 1000 mts de desnivel acumulado!!600 + e 400-!!!Penso e espero que a maratona do Gerês deste ano, tenha um lugar reservado para mim!!! :)
  Uma palavra de apreço também para a organização : Gostei muito da vossa humildade, da vossa simpatia, do vosso esforço, e acima de tudo, de quererem ouvir a nossa opinião em relação á prova.Merecem a credibilidade da prova, e acredito que com uma melhor divulgação, promoção e talvez uma data mais em conta e que não coincida com tantas provas, terão a afluência de atletas que bem merecem!! E por favor, não mudem o nome à prova, pois ouvi alguém da organização dizer que o nome só faz as pessoas pensar em comer...Meu caro, se há coisa que realmente falhei nessa ida a Arouca, foi de não ter ido depois almoçar um belo bife ou uma bela posta!!! A prova surgiu com esse nome e irá continuar com o mesmo!! Assim espero!!!


  Como curiosidade, aqui fica a nota do meu registo:

   Meia maratona da Posta ao Bife/ 21kms / 1000 desnivel acumulado / 80 participantes

    Tempo - 1h 45m 17s

    Classificação Geral - 20º 




     

                

terça-feira, 7 de abril de 2015

Trail do Lidador by Night

No passado sábado, realizou-se na cidade da Maia, mais concretamente no Parque Urbano do Avioso, a 1ª edição do Trail do Lidador by Night. Dado o sucesso da edição diurna (efectuada no mês de Outubro do passado ano) , a Confraria Trotamontes como organizadora do evento, não teve duvidas em avançar com uma versão nocturna da prova, e em boa hora o fez, pois uma vez mais, ficou comprovado que a qualidade e competência na arte de bem organizar eventos na Natureza, está ao alcance daqueles que o sabem fazer, sejam eles efectuados de dia ou de noite.
  Dado o panorama actual das provas de Trail (cada vez existem mais, embora sinal de quantidade não signifique qualidade), e da dificuldade que isso cria em calendarizar-se uma data a preceito para que não haja um "conflito de interesses" com outras provas, o dia escolhido não podia ter sido tão perfeito como o foi o do passado fim de semana. Após uma manhã a puxar o calor, e uma tarde resplandecente a convidar uma ida à praia, a noite apresentou-se perfeita para receber todos aqueles que quiseram marcar presença neste Trail denominado como um Trail de Estrelas....
E como foi bonito de se ver o brilho das estrelas no céu e o brilho de uma Lua Cheia que abrilhantou e de que maneira todo o cenário já de si encantador. A Lua  funcionou como uma simbiose perfeita, entre a constelação de estrelas que brilhavam no céu e aquelas que iam brilhar na Terra e abrilhantar os trilhos ao redor do Parque do Avioso. Mas em antes, quem brilhou foram Estrelas de um passado recente do Desporto Nacional, que ainda hoje permanecem bem cintilantes na memória de alguns. De facto, e num gesto a fazer ver ás várias entidades locais, municipais, ou estaduais, o Grão Mestre José Moutinho, resolveu homenagear uma série de atletas que brilharam ao mais alto nível nos anos 80 e 90, sendo que grande parte deles, foram atletas Olímpicos...Simplesmente brilhante, e o enorme aplauso que receberam no fim quando todos posaram para a foto, foi um mero e humilde acto de reconhecimento de todos aqueles que como eu, presentearam tamanho momento em claro sinal de respeito e admiração por tudo aquilo que conseguiram fazer em prol do desporto e neste caso do Trail, pois ainda muitos de nós imaginávamos lá correr em montanha, e aquelas pessoas já o faziam!! A todos eles, o meu muito obrigado!
  Findo este momento merecido e bonito, iria então ser dada a partida para a prova em si. Seriam 18 kms de puro entretenimento, muita aventura e muita adrenalina!! É que queiramos ou não, correr à noite, é sempre diferente e especial! Após um breve "briefing" daquilo que nos esperava ao longo do percurso, a partida é dada, e como sempre a grande velocidade!!! Os frontais, apontavam em direcção aos reflectores, e estes "apenas" nos tinham de iluminar o caminho a seguir! Após uma breve volta pelo interior do Parque, saímos do mesmo, e fomos numa cavalgada galopante, em direcção aos trilhos que nos iriam proporcionar um percurso muito interessante e com alguma variedade! A qualidade estava lá, e foi o inicio de um "zig zag", ou de um "serpenteado" á volta de um "carrocel" que são as matas de São Pedro do Avioso!! E o percurso contempla-nos de tudo um pouco: zonas técnicas, subidas curtas mas intensas, descidas onde todo o cuidado é pouco, e zonas rolantes. Senti com todo este cenário, uma descontracção e uma sensação boa em correr, e lá fui, trilho fora, a apreciar todo o encanto que a noite me estava a proporcionar. E estive sempre acompanhado nesta aventura, pois das vezes em que não sentia uma alma humana ao meu lado, tinha a companhia das estrelas e de um luar sublime que me iluminava ainda mais o trilho a ser seguido. Algumas foram as vezes que olhei para a Lua, como se de uma bela mulher se tratasse... :)  Era quase como a Estrela Polar a indicar o Norte.... Numa primeira parte da prova (até ao local do abastecimento) e dadas as caracteristicas do percurso, o ritmo foi forte e intenso, sendo que na segunda parte, esse mesmo ritmo foi mais suave dado ao acréscimo das dificuldades e ao cansaço que entretanto se sobrepôs, e que me levou também a ver o chão e as estrelas ao mesmo tempo, pois o tropeçar numa pedra, fez-me tombar, e ficar durante cerca de 1 km com uma dor insuportável num pé, ao ponto de imaginar que a prova se iria concluir ali...Mas é nestas alturas que tem de vir ao de cima o nosso espírito de sacrifício, de luta, de vontade e de superação e foi isso que fiz.
O caminho era em frente e tinha do o continuar a "trilhar"!! É que uma aventura só pode ser contada se tiver um fim, e neste caso, não seria  justo ficar a meio dela e não contar por exemplo a passagem pelo Monte Castro de Alvarelhos, onde se situa uma Citânia Romana (que muitos não viram por ser de noite), ou a passagem pela "moutinhada" habitual que é sempre contemplada nas provas traçadas por este "traça-dor" de natureza genuína! Até ao fim, ainda houve tempo de saltar uma "cerca" em forma de portão, fazer mais uma ou outra subida, contemplada depois com a natural descida, e um novo "zig-zag" em antes da entrada final no parque, que nos levaria até à meta. 
  Em jeito de conclusão, mais uma vez assistimos a uma prova exemplar, onde nada falhou, e onde toda a gente se divertiu. Marcações exemplares (diria até, que estava demasiadamente bem marcada!! :) ) , colocação de elementos do staff em locais estratégicos, abastecimento perfeito, tudo,tudo muito bem aproveitado. E isto só se consegue com muito trabalho, e sacrificio por parte da organização....E uma vez mais, foi feito um Trail de laboratório, como já foi dito no passado pelo Grão Mestre.....Este método cientifico começa a dar que falar, e é prova assente que é possivel fazer um trail em qualquer lado....Uma palavra também, para Gonçalo Mendes da Maia, um maiato de gema, que no seu tempo foi co-designado como "O Lidador" , nome que se dá a esta prova....estará de certo este comandante dos tempos de D.Afonso Henriques, orgulhoso pelo feito de todos estes "guerreiros e guerreiras" que iluminaram por uma noite, a sua terra e a sua cidade!! 
 Da minha parte, todos merecem os meus sinceros parabéns, desde os vencedores das diferentes categorias,aos demais participantes!! Afinal, trail é mesmo isto, todos somos iguais, todos partilhamos o mesmo gosto, o mesmo trilho, independentemente do tempo que se leva a concluir uma prova!! Aqui ,não há diferenciação entre elites e os demais!! "Merci Monsieur" Francois D`haene, pela brilhante atitude que teve há bem pouco tempo em relação a este tema!!
 
 Como curiosidade, aqui ficam os meus registos :


Trail Terras do Lidador By Night - 18 kms/ 600 D+ /303 Participantes

Tempo - 1h 48m 39 s

Classificação Geral - 21º

Classificação de Escalão - 13º

Um forte abraço deste vosso amigo,

                                                                   Diogo João

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Trail Santa Iria - Branzêlo,Melres

25/01/2015


  Primeiro Trail do ano, por conseguinte a primeira prova, e o regresso aqui ao blogue para reportar todas as emoções por mim vividas. Espero que este ano seja para valer, e que isto signifique também uma maior assiduidade aqui à escrita,  pois o ano de 2014 de certa forma foi para esquecer...
  Sendo assim, no passado domingo, desloquei-me até Branzêlo/Melres, em Gondomar, para participar na 3ª edição do Trail de Santa Iria. Era uma prova na qual tinha participado no ano passado, e como tal, achei por bem voltar novamente este ano devido ás inúmeras coisas positivas que esta prova nos dá (haverá coisa melhor que correr em locais com o Douro como pano de fundo?!?!). Inicialmente, ponderei em fazer a prova maior (37 kms) tal como tinha feito na edição anterior, mas depois, e analisando melhor o meu estado físico e as caracteristicas da prova, achei que o melhor, seria fazer a prova mais curta (18 kms). É que a prova maior, ia ter um desnível acumulado de 4000(!) mts, que fazendo as contas, daria cerca de 1000 mts de desnível por cada 10 Kms, ou 100 mts por cada km percorrido....è muita fruta......a prova mais curta, não iria ser mais fácil, e seria de todo idêntica ( 1600 mts de desnível acumulado) no que toca ao desnível por km percorrido, mas neste caso predominava o facto de ser "apenas" metade dos kms da prova maior.
  Depois de uma noite de véspera mal conseguida quando preparava toda a indumentária que iria levar para a prova (faltou a camisola oficial da equipa, e que ainda hoje falta... :) ) , a viagem até Branzêlo também não foi de todo bem conseguida, pois resolvi "inventar" e ir pela auto-estrada para conhecer o caminho, e enganei-me no trajecto, fazendo com isso, perder imenso tempo, tendo chegado á "queima" ao local da prova....É caso para se dizer que faltavam fitas na estrada!!! :) :) Lá tive de fazer o aquecimento antecipado, e ir a correr até ao secretariado para levantar o dorsal....Menos mal, que esse processo foi de todo rápido, e consegui ter margem para relaxar um pouco e ir em direcção ao local da partida de forma mais tranquila. Deu para tirar as fotografias habituais da praxe, e deu para ir cumprimentando e falando um pouco com os amigos que iam aparecendo. O ambiente estava como sempre excelente, e previa-se uma prova também ela de boa qualidade,atendendo ao vasto lote de atletas de inegável qualidade, que se apresentavam à partida deste trail curto. Assim de repente, contabilizava uns 7 atletas como potenciais favoritos para a vitória final.

  9.00 horas,e eis que é dada a partida para a prova longa.....5 min depois, partia a prova curta na qual estava inserido. Atendendo ás caracteristicas da mesma e dos atletas nela inscritos, sabia que me esperava uma prova com ritmo rápido e isso confirmou-se logo após a partida. O frio também ajudava a isso ( estaria aquela hora não mais do que 4 graus de temperatura) e o primeiro km foi feito a 4`30...sem aquecer, é dose.....depois disso, entramos verdadeiramente em trilhos, e na prova em si....após uns primeiros metros de adaptação ao tipo de piso que iriamos ter durante grande parte da prova, senti que o terreno estava agradável e com pouca lama e água. De facto, a ajuda do tempo tem sido fundamental no sucesso que esta prova está a ter, pois em 3 edições feitas, o sol raiou sempre a grande altura!!! Menos positivo, foi logo o facto de termos de encarar naqueles primeiros metros, a primeira subidinha da prova...uns 400 mts de inclinação não muito acentuada, mas que já dava para fazer mossa e obrigar deste modo muita gente a caminhar, fazendo desde logo uma imensa fila indiana....estranhei aquilo, pois achei que era gente a mais que se encontrava ali....o "mistério" ficou esclarecido, quando reparei que já ali (iria com cerca de 2.5 kms) já estava a alcançar malta da prova mais longa....Continuando a prova, e alcançado o cimo da subida, o perfil do percurso alivia um pouco, dando neste caso alguma margem para se recuperar algum fôlego, e aproveitar para impor um ritmo adequado e mais elevado para ir ultrapassando alguns atletas da dita prova longa. São cerca de 2 kms rápidos em perfil plano/descendente até chegar à zona do  primeiro abastecimento. Um abastecimento apenas liquido, onde a prova sofre um ligeiro desvio para uma zona bem técnica e rochosa, onde tinha-se de escalar as rochas e caminhar sobre as mesmas. Mais uma vez, o "tráfego" nesta zona é caótico, fazendo-me quebrar bastante o ritmo. Algumas pessoas, apercebendo-se que eu era da prova mais curta, ainda davam passagem, mas era praticamente impossível progredir de forma aceitável pois o espaço era muito limitado e não dava para ultrapassar as pessoas de uma forma segura. A ideia estava boa, as pessoas é que eram em demasia naquele ponto da prova. Continuando e findo este momento, volta-se a entrar em trilho normal e um pouco largo, e tento aumentar a passada para ir em busca do tempo perdido!!! :) O perfil do terreno também ajuda, pois começa-se a descer e aproveito esse momento para continuar a ultrapassar alguns atletas, de tal forma que chego a uma zona onde a descida inclina mais um pouco, e começo a sentir os pés a arder!!! Literalmente foi mesmo isto que aconteceu!!!! ia em brasa!!! :) Culpa do calçado que levava, pois quis levar as sapatilhas de estrada, que continuo a dizer que são as que me aderem melhor mesmo em terreno de trail, mas devido à sua estrutura leve e pouco robusta, fez-me sofrer neste momento de prova. Abrando um pouco o ritmo e só pensava que como seria bom a descida acabar e ter uma poça ou um riacho de água à minha espera para arrefecer os pés....nada disso aconteceu, e entro numa zona em paralelo que me leva em direcção a uma povoação local. Nesta fase da prova, cruzo-me com a amiga e super campeã, Flor Madureira, que estava a fazer a prova longa, e diz-me logo para ir com calma e com juízo... Sempre conselhos a serem ouvidos e a terem de ser levados em linha de conta....Atravessada a povoação,e atravessada a estrada nacional, entro novamente em trilho, e num "single track"a descer, e espectacular de se fazer, que me ia levar de encontro a uma das zonas mais bonitas da prova, que era nada mais nada menos que a uma das margens junto ao Rio Douro. Foi cerca de km e meio com o rio por perto, até chegar ao primeiro abastecimento sólido que se situava num jardim de uma casa privada. Ambiente excelente,com musica, e abastecimento pelo que me deu a entender pois não tive necessidade de parar, muito bom! Vim a confirmar no fim, que sem qualquer tipo de dúvida os abastecimentos eram de qualidade acima da média!!

  Nesta altura, a prova marcava 8 kms, e estava prestes a entrar na segunda parte da mesma. Cruzo-me com o amigo Carlos Madureira, que estava a acompanhar a prova na saida do abastecimento, e alerta-me para o facto de estar a aproximar-me da maior dificuldade da prova: a dita cuja "subida impossivel"!!! Mas até à mesma, ainda distavam uns 3 kms, que foram feitos a um ritmo razoável, e levou-me a passar por locais que tinha passado na edição do ano transacto. O perfil do percurso estava a endurecer, e começo a sentir isso nas pernas....esta segunda parte de prova ia realmente ser dura....Aproveito o momento para me hidratar bem e comer uma barra energética, pois sabia dos "perigos" que advinham....Começo a sentir, pelo local de prova, que a subida iria ser a mesma que tinha feito no ano passado e não a tinha esquecido....e chegado ao km 11,"voilá"!!!! Eis que aparece a "subida impossivel" e que se confirmava ser a mesma!! Olho para ela "carinhosamente" e não lhe vejo o fim...vejo isso sim, os outros companheiros que já estavam a escalar, a sofrer como poucos.....não tinha outro remédio, e tinha de fazer o mesmo....lembrei-me do ano transacto e disse a mim mesmo, que desta vez ia ser ainda melhor...calmamente, começo a escalada( sim,aquilo é mesmo feito em versão escalada,com os braços e mãos permanentemente a ajudar as pernas numa luta sem tréguas!! :) ) e sigo caminho....tento definir muito bem onde faço os apoios, tento ter cuidado com os colegas que iam na frente, pois a proximidade era alguma, e havia o risco de alguma pedra se soltar e vir por ali abaixo, colocando em perigo a  nossa segurança. Olhar para baixo também era proibitivo, sob pena de sentir alguma alucinação e poder cair...o menos mal desta escalada, é que temos dois lanços para descansar e respirar um pouco....mas digo-vos, são 400 mts de puro empeno e para bravos!!! Chegado ao cimo, dou-me por aliviado por este pesadelo ter terminado,mas isto não quis dizer que as dificuldades estavam ultrapassadas...longe disso.....Passo por uma placa informativa que avisa para o separar das duas provas,e 200 mts à frente,  lá se encontra um membro da organização para fazer o devido aviso. Chego a um momento da prova determinante, pois a partir de agora o "trânsito" ia ser bem menor, e a concentração teria de ser bem maior para não correr riscos de falhar alguma fita de marcação do percurso.
Confirmo isso, pois fiquei logo a sós e começo a fazer uma descida rápida. vejo dois companheiros ao longe e noto que estou bem, ao ponto de estar a aproximar-me com relativa facilidade deles. A descida termina e enfrentámos nova subida longa....das tais que não mata mas moí....faço-a em regime de correr alternando com caminhada e alcanço os dois companheiros..foram mais 600 mts a subir....Começa-se a descer e penso para mim...acho que o mais dificil está ultrapassado....Mais uma vez, puro engano... a descida termina, no ponto onde estava o 2º abastecimento sólido da prova. Levava 13 kms e naquele ponto tenho um membro da organização que faz a "checkagem" do dorsal....Mesmo não querendo, sou obrigado a parar, e para piorar o dorsal desprende-se dos alfinetes...lá tenho de fazer o resto da prova com o papel na mão...pergunto o que faltava do percurso,e diz-me que "agora é sempre a subir(!) até ao ponto mais alto da serra"!! Boa resposta, penso eu.....Lá sigo serra acima, e começo a reparar que estou em quebra pois os companheiros que iam um pouco mais à frente, começam a afastar-se....Procuro mais vezes o relógio, e ao fim de olhar umas 3x vejo que não há progressão no mesmo....Não sei porque diabo aconteceu, mas realmente o relógio estava em pausa.... :) Perdi seguramente um km de registo, mas nada de preocupante. Preocupava-me isso sim, o não ter fim aquela subida traiçoeira, que enganava bem com pontos mais simples mas logo a seguir com outros bem mais complicados e dificeis....Falo com um colega que me alcança e pergunto quanto kms levava...disse-me que quase 16, e comentamos logo que a prova naturalmente seria um pouco mais longa....no meio de tudo isto, lá alcanço o ponto mais alto da serra (o marco geodésico assim o ditava), e com isso pensava que as dificuldades de subida estavam terminadas...Pensei bem, pois logo a seguir, voltamos á esquerda( ainda vi uns colegas a voltarem para trás pois tinham continuado em frente :)) e começamos a fazer uma descida "louca" e de certa forma perigosa....Pedra solta em abundância, e outros perigos pelo caminho, diziam para se ter alguma precaução, mas lá fui confiante e imprimi um ritmo dentro daquilo que as minhas pernas deixavam.... foi 1 km de pura adrenalina!!! Já está quase, pensava eu e é sempre nestas fases finais de prova que tudo começa a pesar e digo que aquilo nunca mais acaba...Tento manter então o ritmo, sempre com 2 companheiros em mira e tento não os deixar fugir....consigo ir e mesmo a entrar no ultimo km, sou alcançado por outro companheiro. Está feito, diz-me ele, e mal acaba de dizer aquilo, alcançamos uma placa a dizer " 1 km para a meta"..."bendita placa", penso eu..seguimos juntos e ainda tivemos tempo de prestar ajuda a um colega que ia a passo e pareceu-me que desidratado...demos agua e dissemos que a meta era logo ali...ele disse que ia a passo, e então os dois lá continuamos juntos até ao fim...ao fim de 2h e 58 segundos finalizo, o Trail de Sta Iria, que uma vez mais, me deixou extremamente satisfeito!! Mais satisfeito que tudo o resto, foi verificar que os joelhos portaram-se lindamente, e aguentaram-se muito bem!!! Espero que este ano, possa realmente compensar, aquilo que não consegui concretizar em 2014.
  Numa nota de conclusão, esta prova está a tornar-se um ponto de referência no Trail nacional, e não deixa qualquer tipo de admiração: Percursos excelentes, bem marcados, bem conseguidos, duros, e com pontos de beleza ímpar. Mas essencialmente o que sobressaí mais, é mesmo a simpatia, humildade e bem receber das gentes locais. É gratificante, sentir o carinho das gentes de Branzêlo, que recebem os atletas de uma forma única e fazem deste dia, um dia de autentica festa. Muito obrigado por tudo, e será sempre um gosto voltar e ser recebido assim. Isto já para não falar dos abastecimentos e do almoço: verdadeiramente únicos,e sem comparação alguma em relação a outras provas que já tenha feito.

  O único reparo que faço em relação á prova, e serve desta forma para ajudar a melhorar as próximas edições, é o aumentar o tempo de partida entre ambas as provas ( 5 minutos é muito pouco, e alargando essa margem evita o aglomerar de pessoas nos pontos que falei anteriormente), e haver prémios nos vários escalões da prova. Havendo o reparo nestes dois pontos,para mim a prova fica perfeita!!! 
  
  Como curiosidade, aqui ficam os meus registos :

Trail Sta Iria - 18 kms / 524 participantes
Tempo : 2h 00m 58s
Classificação Geral : 35º
Classificação de Escalão : 24º

Um forte abraço para todos, e até para o ano!!!